O tempo está uma porcaria. Nem é só estar uma porcaria, é a promessa de estar bom e depois estar uma porcaria. Já anda aí tudo cheio de ovinhos da Páscoa, coelhinhos e florzinhas, tudo em palete de cores azul-bebé, rosa-bebé, amarelinho e verdinho, uma combinação delicodoce de páscoa e equinócio da primavera. Daqui a uma semana começa a primavera. As árvores já têm rebentos prontos. Já estamos quase na semana de férias do meio do semestre. Já mudou a hora. E como é que está o tempo? Chuva. Chuviscos. Neve durante cinco minutos. Mínimas negativas. Máximas que não chegam aos dez graus, há dias que nem aos cinco. Um sol que é um desconsolo, ranhoso ranhoso. Acho que estou a ficar com aquela depressão que têm os nórdicos, de não terem luz (e calor) suficiente durante não sei quantos meses. Já estou farta de cachecóis e luvas e gorros e casacos de inverno. A minha alma mediterrânica não se aguenta.
Esta noite enchi-me de coragem e brio nacional e fui ver um filme do Manoel de Oliveira. Há um ciclo de filmes dele na cinemateca cá do sítio, e eu achei que tinha mesmo que ser. Eu, aqui me confesso, nunca tinha visto um filme do Manoel de Oliveira, cineasta português de maior renome internacional. Nunca tinha visto porque achei que me podia safar, diziam-me que era uma seca, filmes longuíssimos e chatos comó raio, e eu, pronto, então sendo assim ia ver outro filme qualquer, e isto todas as vezes, ou se passava na televisão não via, ele há tantas coisas interessantes para se fazer em casa, ler, ir à internet, preparar uma sanduíche.
Mas estando aqui emigrada, a coisa pia mais fino. Então o senhor é importante, é português, há um ciclo de cinema dedicado a ele aqui bem perto, e eu nunca vi nada dele? Injustificável, quase crime lesa-pátria. Portanto, eu fui ver um filme do Manoel de Oliveira porque tinha que ser. Uma curta, "Douro, Fauna Fluvial", e uma longa, "Benilde ou a Virgem Mãe". Dormi descaradamente durante a primeira (o que é uma pena, porque durante as partes que estive acordada, pareceu-me bonita) e vi alegremente a segunda, sem dar pelo tempo passar. Mais, havia um outro filme dele a seguir e eu fiquei com vontade de ficar mais duas horas no cinema para o ver também. Não fiquei, mas felizmente o ciclo ainda dura mais duas semanas. Quem diria que eu, em deixando de fugir com o rabo à seringa, acabava por gostar?
Mais duas coisas ainda sobre o(s) filme(s):
1. É mais seguro ver filmes potencialmente aborrecidos no cinema (por comparação a vê-los em casa). Há menos possiblidades de escapar para ir ler, ir à internet ou fazer uma sanduíche.
2. Há um certo sentido de se ter feito justiça ao ver, no grande ecrã, uma D. Genoveva a falar com um Dr. Fabrício na língua pátria, e as belas das legendas em inglês por baixo. Ah pois é, pimba, toma!
é a penúltima linha da minha morada, enquanto aprendo matemática no MIT.
domingo, março 16, 2008
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7 comentários:
Faz-se justiça! lol
Não te estou a reconhecer. Não foste er nenhum filme do Manoel porque eu não sabia que nunca tinhas visto, escondeste isso bem, porque se eu soubesse não escapavas não.
Vê lá se vês ao menos o Vale Abrãao, vais gostar. E se der o Aniki Bobó não percas. Já o Non ou a Vã Glória de Mandar, que é sobre a guerra colonial e tem uma excelente interpretação do Luis Miguel Cintra, não sei se vais gostar. Mas um destes há de passar por aí, e aproveita.
Mas em boa verdade, a primeira reacção ao ler este post foi ter ficado pentaplégico (2 braços + 2 pernas + crâneo). Deu-me vontade de te bater. Só por bom senso e depois de grande sofrimento é que consegui escrever o post anterior.
É que quase chorei. Eu, que sempre fui militantemente ver filmes portugueses, quando me dizem mal do cinema portugues fico como aquelas mães cujos filhos são autistas mas que não gostam que lhes relembrem isso, percebes ?
Tenho a impressão de que vais passar as próximas férias de castigo na cinemateca de Lisboa.
L., eu adoro-te.
lol. : )
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