Lá me fui centrifugar numa cama rotativa, capacete e óculos com sensores, os olhos muito abertos em completa escuridão. A rotação da centrifugadora apenas produz uma gravidade artificial ligeiramente superior aos nossos costumeiros 9.8 metros por segundo quadrado. Nada de mais.
O mais é quando começam as instruções para virar a cabeça para um lado e para o outro. Com cada movimento da cabeça, perco o equilíbrio, caio para trás em cambalhotas no ar, primeiro depressa, cambalhotas apertadas e depois cada vez mais devagar, mais largas, até que páro, miraculosamente de novo quase na horizontal. Obedeço âs instruções e viro a cabeça uma, duas, dez, vinte vezes, sempre de olhos bem abertos no escuro, e uma, duas, dez, vinte vezes respondo às perguntas repetitivas sobre o que estou a sentir, e então viro a cabeça só mais uma vez e um enjôo grande sobe-me corpo acima, invade-me tudo, respondo às perguntas só mais uma vez e respondo que sim, que quero parar. Não quero mais cambalhotas no ar, quero o mundo parado à minha volta, a gravidade a puxar para baixo, o meu cérebro a concordar com o que vêem os meus olhos, com o que lhes diz o líquido nos meus ouvidos, pobre líquido aos trambolhões ali dentro, quero ar fresco, quero parar.
Se calhar afinal não vou ser astronauta.
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