é a penúltima linha da minha morada, enquanto aprendo matemática no MIT.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

nevão

Diz-se que na língua dos esquimós há mais de vinte palavras para descrever nevões. Em português não.

Começou já depois de eu acordar. Tão imperceptível que os meus olhos demoravam a focar os flocos, tão leves que flutuavam em vez de cair. Depois engrossou em farrapos brancos. Quando saí de casa, já os montes de neve lamacenta e o gelo pisado estavam tapados por um lençol fininho. Neva ininterruptamente há horas e o lençol transformou-se nua manta pesada. Quando neva assim, as rabanadas de vento vêem-se como se vêem as ondas quando se abrem os olhos debaixo de água. Todos os ramos nus de todas as árvores estão sublinhados (sobrelinhados?)  por um traço branco, idem para os telhados, parapeitos, carros estacionados e bicicletas caídas, os arbustos e ramos de árvores com folhas curvam-se sob o peso da neve. Da minha janela vejo tudo assim sublinhado a branco, tudo tão branco, e então alguém resolve enfrentar o nevão munido de um guarda chuva encarnado, tudo branco e só o encarnado de um guarda chuva, tão bonito, e prometo a mim própria que o próximo guarda chuva que comprar há-de ficar bonito contra o fundo branco de um nevão. 

A previsão é que neve o resto da tarde, o resto da noite, e todo o dia amanhã. Venha ele.

1 comentário:

Ana Rangel disse...

Buááá.

:)

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