é a penúltima linha da minha morada, enquanto aprendo matemática no MIT.

terça-feira, maio 04, 2010

a concussão, ou a falta dela

Este fim-de-semana que passou, noite de sábado para domingo. Ia a andar de bicicleta depressa, a estrada vazia só para mim, aquela liberdade de sentir o vento a bater na cara, a noite só minha, a estrada só minha. Nem vi a lomba. Caí com um grande estardalhaço, cambalhota salto mortal, capacete bumba no chão com toda a força, umas estrelinhas, testa no chão com toda a força.

Sentei-me no asfalto, a fazer o exame à situação: dores? só tipo arranhão, sangue? mãos à testa, e jasus! uma batata, já, nem meio minuto depois da batida, uma batata enorme na testa, uma meia-esfera ou mais, coisa de fazer inveja a todos os galos que já tive na vida. Telefono à A., poramordedeus anda cá já, caí da bicicleta e agora tenho uma coisa enorme na testa, não sei o que fazer. Isto três da manhã, ela de vestidinho de noite e sandálias de salto alto, e um bocadinho bêbeda. Chamamos a ambulância, uma excitação, eu em bons espíritos, sem dores, mas com a testa disforme, a parecer um extraterrestre do star trek.

Horas no hospital. Deitada numa maca, com gelo na cabeça, sem sequer me limparem as feridas (o corte na testa, dois buraquitos no polegar, e uma esfoladela no braço, tudo coisas fáceis de limpar, digo eu). Horas à espera da médica. A A. sentada numa cadeira ao pé de mim, as duas na risota, a dizer mal do serviço de urgência porque ninguém me trata.

Vem uma enfermeira fazer perguntas, nome, idade, morada, descreva lá o acidente, perdeu a consciência?, sabe, isto esta noite está uma confusão, temos um criminoso na outra sala, por isso é que está cá a polícia. Vem uma senhora pedir o cartão do seguro de saúde, sabe que tem que pagar 100 dólares de co-pay, vai poder pagar hoje? Outra vez a enfermeira fazer perguntas, com quem vive, batem-lhe em casa?, a médica vem quando puder, sabe, isto esta noite está uma confusão, temos um code*.

Depois, finalmente, a médica. Novinha, simpática, quer saber se perdi a consciência quando bati com a cabeça, se estou a ver estrelas neste momento, se sei quem sou, o que faço, onde estou e que dia é, se sei quem é a A. sentada ali na cadeira. Pede à A. para me fazer uma pergunta difícil de matemática a que eu deva saber a resposta. Acabo a recitar o teorema principal da minha tese à médica novinha e simpática, e ela dá-se por satisfeita. Dá-me os parabéns por ser doutora e por ter usado o capacete. Pelo segundo mais que pelo primeiro. Tive muita sorte, foi o que foi.

* Aparentemente,uma perda de sinais vitais.

4 comentários:

francisco feijó delgado disse...

Eh pá, eu processava o André porque deve ter sido culpa dele. Uma pessoa não te pode deixar sozinha, estou a ver.

As melhoras para o galo!

∫nês disse...

Cá para mim afinal a água de Cambridge também está contaminada :)

As melhoras!

Ana disse...

oh :O que desastre! melhoras e que o galo não te acorde à noite.

Mike Davies disse...

Cá para mim afinal a água de Cambridge também está contaminada :)
hi..

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