é a penúltima linha da minha morada, enquanto aprendo matemática no MIT.
sábado, novembro 24, 2012
avô Zé
Morreste-me ontem avô, e já tenho saudades tuas.
Devia dizer -nos em vez de -me, porque somos tantos. Obrigada por sermos tantos. Se ainda não nos perdi a conta, nove filhos, catorze netos e sete bisnetos, e mais todos os respectivos que também fazem parte da família.
Quando recebi o telefonema, ontem, quis acreditar que quando se morre se vai para o céu, para te poder imaginar a ser recebido pela avó Isabel, pela Antonieta e o teu filho bebé.
Tento reunir todas as memórias contigo, todas as histórias contigo. Tento lembrar-me da tua voz, porque sei que a vou esquecer, as vozes desaparecem-me mais depressa que as histórias. A duração exacta dos abraços à chegada e à partida. As bochechas grandes, o cabelo ralo, as mãos grandes e grossas. Os teus comentários que me faziam rir, como quando foste ao Brazil e sobre o vôo disseste que a estrada tinha buracos. E quando depois de um ano no Estados Unidos me perguntaste se já estava, se já ia voltar. As tuas histórias, como a do cão que te seguiu até conseguir comunicar que tinha um osso encravado na garganta. O dia em que dançámos no hall de entrada da casa de Lisboa e disseste que já há muito tempo que não dançavas com a avó. Sabias que quase não me lembro da avó? As caixas de cerejas congeladas que guardavas para mim nos anos em que eu não estive em Portugal para as colher e comer na altura certa. O ano em que a nogueira deu poucas nozes mas tu guardaste uma para mim. O semeares canteiros com flores tão grandes e importantes como os das alfaces ou das cenouras. A roseira da avó sempre com flores. Quando ainda íamos ao café no dia de Natal, e tu pegavas num maço de notas e com muito orgulho pagavas os cafés de todos, e mais as pastilhas e chocolates para nós mais pequenos. O envelope de Natal com o dinheiro contado e trocado, uma nota para cada neto. Avô, vamos ter saudades tuas este Natal. Vou ter saudades de te mandar postais quando viajar, reparaste que eram quase sempre postais com igrejas? E que estavam sempre escritos com letra grande, para ser mais fácil ler?
Fico contente por te ter tido tanto tempo, por ter tido tempo para te conhecer e para me conheceres já adulta. Por teres conhecido o Nick e ele te ter conhecido a ti. E por ter podido ir despedir-me, no fim. Dar-te a mão e fazer-te festas na cabeça e falar contigo mesmo quando dormias. Por teres acordado e olhado para mim e sorrido um sorriso grande.
Não te preocupes avô, que nós somos muitos e tomamos conta uns dos outros.
Um abraço grande, obrigada por tudo, e parabéns pela tua vida.
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4 comentários:
Que lindo Rita! De certeza que, lá de cima, o teu Avô te sorri, acena e protege.
São tão boas recordações que te devem encher de orgulho de teres sido sua neta...
Priminha, a tua dedicatória é linda. Todos nós sentimos saudades do avô Zé. Partiu a alguns dias e agora compete aos filhos, netos e bisnetos fazer com que a sua memória nunca desapareça. Um beijinho muito grande. Nuno P.
Prima disseste tudo!!! Não tenho palavras...apenas as lágrimas que correm pelo rosto abaixo. Como diz a tua amiga Ana Paula é, sem dúvida, um orgulho ser neta de uma pessoa tão especial como o nosso avô!
Beijo grande,
Cau
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