é a penúltima linha da minha morada, enquanto aprendo matemática no MIT.

sábado, março 31, 2007

só há liberdade a sério quando houver

pão

A paz, o pão
habitação
saúde, educação.

(feito cá em casa)

quarta-feira, março 28, 2007

noutra nota

Para desenjoar um bocadinho, e eu ganhar outra vez um ar cosmopolita, olhem, acabou hoje uma exposição fabulosa no guggenheim, e ontem fui finalmente ver as vidas dos outros, muito bom, muito bom.

casinhas

Relendo o parêntesis sobre os ovos e a farinha, parece-me óbvio: aqui brinca-se às casinhas. Aliás, eu devia era ir varrer o chão ou qualquer coisa assim doméstica.

por outro lado

Por outro lado, o frigorífico precisava de ser esvaziado de vários ingredientes aleatórios, e eu tenho mais jeito para isso que o chef de serviço cá em casa. E sem ir ao supermercado comprar ingredientes adicionais (senhores, isto mostra uma cozinha com maturidade como eu não posso explicar, na minha casa há ovos e farinha em permanência, como se fosse a cozinha dos meus pais!), ontem fiz creme de cogumelos e hoje fiz sopa de espinafres com arroz, mas repito, ainda bem que ele chega amanhã, que eu não sei bem que sopa faria com parsnips (não sei como se diz em português) e abobrinhas (aparentemente, é assim que se diz zuchini).

sozinha em casa

Quase sempre somos dois cá em casa, mas às vezes, as férias e os fins-de-semana desencontram-nos, e estou sozinha em casa. Isto fica muito mais silencioso e muito menos divertido e não tenho quem cozinhe para mim e vejo muito mais televisão e ainda bem que ele volta já amanhã.

people watching

people watching 1

people watching 3

people watching 6

@ moma. mais.

andorinha de metal

Espero ansiosamente o inequívoco sinal de que a primavera está para ficar: que a senhoria ponha o suporte de metal para bicicletas nas traseiras da casa.

tic tac

Da próxima vez que voltar a Nova Iorque, é com os meus pais. Isto, nem imaginam, mas tem uma importância descomunal.

sexta-feira, março 23, 2007

sexta feira

O último dia de aulas já sabe a férias, ontem inventámos um seminário nocturno e juntámo-nos num bar pertinho para discutir dinâmica de fluidos que é como quem diz, para beber cerveja. Eu de cerveja não gosto, mas de galhofa sim. E hoje tenho só uma aula a que ir e uma mala para fazer e depois meto-me no comboio em direcção à cidade. Pouca-terra pouca-terra pouca-terra nova iorque.

segunda-feira, março 19, 2007

no avião

Um avião pequenino, dois lugares de um lado do corredor, um no outro, vinte filas no máximo. Antes de levantar vôo a hospedeira anda para a frente e para trás, a contar os passageiros, e a tirar notas para um papel. Finalemente pára, olha para o papel e para nós e diz, por favor, preciso que três pessoas das filas 1 a 7 e mais três pessoas das filas 8 a 15 se vão sentar nos lugares mais atrás, para equilibrar o avião, muito obrigada.

arroz de lingueirão

Há as saudades óbvias. Standard. Toda a gente, mais coisa menos coisa, tem saudades da família e dos amigos, e é tão constantemente que quase não se notam. E depois há as menos óbvias. Saudades do arroz de lingueirão, do conceito de bolos regionais e fruta da época e passeio dos tristes, de lugares marcados no cinema, de expressões como "ó caramelo" e "pitosga", de molas da roupa, do cheiro a pinheiro e aí por diante.

xutos

As saudades, senhores, dão-nos para cada coisa... Deu-me assim umas saudades de pular em concertos, de música aos berros no carro, de gente com guitarras no verão, e por isso escrevi "xutos e pontapés" no youtube. Pois, senhores, aquilo que eu tinha mesmo que registar, digno de nota, gargalhada instantânea - mas quem é que se lembrou disto?! - olha tão giro as guitarras em plasticina! - só faltam os típicos lencinhos à volta do pulso - é, cá está pois então, isto.

passa tempo, tempo passa

Está a nevar lá fora, mas daqui a uns dias a máxima é de 16º. Tenho saudades de t-shirts, de meias sem ser pelo joelho, de casaco que não o de inverno.
Já vamos em meio março, para a semana não há aulas e vou passar o fim-de-semana à cidade. É tempo de tratar dos impostos, e tempo de esperar pelo último degelo do ano. Daqui a três semanas e meia chegam os meus pais, e depois disso é mais um mês até acabarem as aulas e eu voltar a portugal.

no canadá

(fui ao mercado)

brocolli 1.99

dill 1.49

potatoes 2 for 1.00

stacked

(mas não tirei mais fotografias)

(on)

Voltei a casa. De algum modo, pois sim, é casa. E quando cheguei tinha a rua cheia de neve e a sopa acabada de fazer no fogão, que mais se pode pedir?

quarta-feira, março 14, 2007

(off)

Estou em ferias no Canada. Fico ca ate domingo. Ate la, prevejo pouco ou nenhum movimento aqui no tasco. Ate porque nao tenho acentos, e escrever sem acentos aflige-me.
(ai, que descanso, hoje dormi onze horas)

quarta-feira, março 07, 2007

exílio

Ainda sobre o post anterior, muitas vezes penso que este exílio não há-de ser assim tão diferente do que foi, há anos, o da minha mãe quando deixou a guarda para ir trabalhar e estudar na universidade em lisboa, e o do meu pai quando miúdo deixou a aldeia para ir para o liceu em castelo branco, ou quando trocou a beira baixa por lisboa para continuar a estudar.
Em alguns pontos, estou eu mais distante que eles estavam na altura. Em outros, estou bem mais perto.

terça-feira, março 06, 2007

distância

Uma pessoa embarca nisto de ir passar um número razoável de anos fora e sabe, mesmo que não saiba que sabe, que coisas vão acontecer nesses anos. Há-de nascer-nos gente (nascer-nos, assim mesmo, ainda que não a mim. Em Abril, por exemplo, vai nascer-me um primo, é isso que eu quero dizer), há-de morrer-nos gente, há-de casar-se gente e outras coisas assim importantes. É certo que se eu aí estivesse o mesmo aconteceria. Mas. O primo que me vai nascer, só lhe pego já bebé de meses. O outro priminho, a fazer-se gente, vejo-o de meio em meio ano, perguntam-lhe onde estou e responde "na amé-ica". O tio-(quase)-avô que me morreu há dois dias, não lhe fui ao funeral. Não chorei abraçada a quem chorou. Não olhei em volta, lá na terrinha, para os espaços onde coexisitmos, a deixar afundar a ideia de que já não estás aqui. Uma pessoa embarca nisto de ir passar um número razoável de anos fora e sabe, mesmo que não saiba que sabe, que um dia desses vai receber um telefonema a dizer "estou grávida" ou "já nasceu" ou "filhota, o titó faleceu" ou "vamos casar". E fica triste ou contente ou rebenta em lágrimas ou em gritos histéricos, por telefone. A milhares de quilómetros de distância.

segunda-feira, março 05, 2007

81

ti tó

O titó foi meu quase avô.
Quando queríamos saber alguma coisa acerca de alguém lá da terra, ele sabia. Contava a história, acrescentava pormenores de personagens secundários, primos e primas, "sim, sim, esta era nossa parenta", é inevitável que esqueça a inflexão da voz quando ele dizia parenta, mas por agora consigo imaginar, a mão enrugada no ar, a dar ênfase à parentidade. Sentava-se no sofá e adormecia, cabeceava, ressonava até, mas depois de chamarmos duas ou três vezes dizia-nos que não, não estava a dormir, estava só a descansar os olhos. Nunca estava a dormir. É o hábito dos velhos, nunca dormir, só descansar os olhos. Às vezes ficava triste, cansado, fraco, respondia com "se lá chegar, se lá chegar" a tudo o que fizesse referência a um tempo futuro. Depois melhorava, lembro-me da voz em meio riso, a dizer "então, pois, é assim". A seguir ao almoço íamos todos juntos ao café, devagar, ao ritmo das muletas. Tremia-lhe a mão a segurar na chávena e gostava de chocolates. Todos os natais recebia chocolates. Eu também. E às refeições, às vezes eu contava-lhe as gotas de remédio, um comprimido destes e um dos outros, à frente do prato, estão aqui titó, estão aqui ao pé do copo, e ele dizia, eu sei, eu sei, eu vejo. E nós fingíamos que sim, que via, tal como fingíamos que só descansava os olhos, em vez de dormir sentado no sofá. Nos dias de sol sentava-se lá fora, ao sol. Como os gatos. A bóina, sempre a bóina. Lembro-me dele sempre velho, as muletas, a bóina, o cabelo muito branco, os óculos grossos e verdes. Ficava contente por beber um copo de geropiga a acompanhar as castanhas assadas à lareira. Não podia, não devia, como todos os velhos, mas fazia-lhe mais bem que mal, a alegria. Não casou, não teve filhos. Mas teve um sobrinho e uma sobrinha, e três sobrinhas netas. E um sobrinho bisneto, o G.. Vi-o um dia com os olhos molhados, o G. a tocar-lhe na mão, praticamente um bisneto, ali, uma mão de bebé na mão enrugada dele, e ele quase a chorar, de comovido. De vez em quando eu mandava-lhe postais de cá, lia-os a minha tia para ele. Gostava de beber chá à noite, como nós todos, deve ser de família, mas gostava das filhoses mais moles, achava as nossas muito duras. Sabia a resposta às adivinhas obscuras do meu tio, com palavras antigas. Levantava a mão enrugada, acenava com a mão enrugada e dizia "é sim, senhora, é isso mesmo". Hei-de esquecer-me do tom exacto, mas quero lembrar-me, a voz, a voz.

ti tó

domingo, março 04, 2007

des-conjectura

Pois não, a coisa não estava certa, afinal é ainda mais complicado que antes, dá-se um passo à frente e dois atrás, ou se calhar é para os lados, mas isto é mesmo assim, e de tanto andar para a frente, para trás e para os lados, pode ser que acabe por não andar em círculos e vá ter a algum lado.
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