é a penúltima linha da minha morada, enquanto aprendo matemática no MIT.

quinta-feira, setembro 20, 2007

carta aberta à c., minha afilhada

Estás tão grande C.. Tão crescida.

Uma das coisas de que tenho mais gosto em ter feito, foi ter-te acompanhado a crescer. Ter-te dado livros, livros, sempre os livros que eu gostei de ler nas idades que foste tendo, sempre os livros que achei importante que lesses. Muitas vezes fui às livrarias em Lisboa, passear os dedos pelos livros, pensar o que seria bom para ti agora. Pensar, este ainda não, é muito cedo, no próximo ano é tempo. Herdaste muitos dos meus livros Uma Aventura e Viagens no Tempo. Um de cada vez. Vai ao meu quarto, escolhe um e leva. Custa-me desfazer-me dos meus livros, mas não destes para ti. Das coisas em que tenho mais gosto, é tu gostares de livros tanto quanto eu. E ofereceres-me livros, e de cada vez eu olhar para eles e pensar, não me teria ocorrido ler tal coisa, e depois ler e gostar, e ir comprar mais do mesmo autor.

Temos às vezes conversas de igual para igual, sobre empregos de verão e dinheiro, sobre planos para o futuro e idiossincrasias das pessoas nas nossas vidas. Cresceste tão boa e tão bonita e tão inteligente. Minha C.. Afilhada.

Lembras-te?, a tua avó sempre embirrou que me chamasses pelo nome. Segundo as regras da propriedade e respeito, ou qualquer coisa assim, deverias chamar-me madrinha. Mas tu não, nunca, era Rita e pronto (agora às vezes lá te sai o madrinha). Acho que no papel nem nunca cheguei a ser tua madrinha, que quando tu foste baptizada eu era demasiado nova para assinar coisas dessas. Assinou a minha mãe por mim, e eu peguei-te ao colo e embalei-te e brinquei contigo como se fosses uma boneca. Podes imaginar a excitação, para mim, miudita, filha única, o facto de haver um bebé com quem eu tinha o direito de brincar tanto quanto quisesse. Lembro-me que demoravas tempos imensos para comer, era um suplício, e lembro-te que gostavas de mexer nos lóbulos das orelhas de toda a gente. Era pegar-te ao colo e logo a tua mãozinha, zing!, direitinha à orelha. E lembro-me também de como me vinhas religiosamente dizer as notas, é isso que fazem as afilhadas no fim dos períodos, "tive sete cincos e três quatros", e eu, a lembrar-me do que pensava quando era eu a ter os setes cincos e os três quatros, corrigia a pergunta antes de a fazer, e dizia "e os cincos, foram a quê?".

Mas C., querida, isto tudo a propósito de quê? Recebi a tua prenda no correio, ontem. Eu sabia que vinha, tinhas-me dito, mas mesmo assim, que surpresa. Não olhei para o papel verde da alfândega, aquele onde está a descrição do que em dentro da caixa e que estraga as surpresas. Sentei-me no chão da sala e arranquei a fita-cola, uma de cada vez. Depois abri a caixa, e os presentes, um de cada vez. Obrigada, C.. Que bom. E que bom imaginar-te aí, a preparar isto para mim, a escolher tudo com cuidado, e eu só pensava, tão crescida que ela está, tão crescida.

Minha querida C., um abraço apertado para ti. E obrigada, gostei muito da prenda de anos.

3 comentários:

Xana disse...

Que sorte a da C., receber um post tão bonito. :)

Margot disse...

Que sorte têm as duas. :)

Anónimo disse...

you have a big heart

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