Ainda não disse, pois não?, mas no outro dia, senhores, vi um guaxinim do lado de fora da minha cozinha. Um guaxinim, senhores! Que exótico. Tinha assim um ar de urso pachorrento, mas do tamanho de um cão gordo, e com uma cauda felpuda às riscas e manchas pretas à volta dos olhos.
Um guaxinim! Que exótico.
é a penúltima linha da minha morada, enquanto aprendo matemática no MIT.
domingo, setembro 30, 2007
quinta-feira, setembro 27, 2007
gran-finale
Em jeito de gran-finale para o Verão, tivemos aí meia-semana de calor valente. Ontem foi ver a universidade a encher-se de garotas de saias e mancebos em calções. Vivam os flip-flops, as saladas para o almoço, o ar-condicionado no quarto e os óculos de sol!
O Outono segue dentro de momentos.
O Outono segue dentro de momentos.
quinta-feira, setembro 20, 2007
carta aberta à c., minha afilhada
Estás tão grande C.. Tão crescida.
Uma das coisas de que tenho mais gosto em ter feito, foi ter-te acompanhado a crescer. Ter-te dado livros, livros, sempre os livros que eu gostei de ler nas idades que foste tendo, sempre os livros que achei importante que lesses. Muitas vezes fui às livrarias em Lisboa, passear os dedos pelos livros, pensar o que seria bom para ti agora. Pensar, este ainda não, é muito cedo, no próximo ano é tempo. Herdaste muitos dos meus livros Uma Aventura e Viagens no Tempo. Um de cada vez. Vai ao meu quarto, escolhe um e leva. Custa-me desfazer-me dos meus livros, mas não destes para ti. Das coisas em que tenho mais gosto, é tu gostares de livros tanto quanto eu. E ofereceres-me livros, e de cada vez eu olhar para eles e pensar, não me teria ocorrido ler tal coisa, e depois ler e gostar, e ir comprar mais do mesmo autor.
Temos às vezes conversas de igual para igual, sobre empregos de verão e dinheiro, sobre planos para o futuro e idiossincrasias das pessoas nas nossas vidas. Cresceste tão boa e tão bonita e tão inteligente. Minha C.. Afilhada.
Lembras-te?, a tua avó sempre embirrou que me chamasses pelo nome. Segundo as regras da propriedade e respeito, ou qualquer coisa assim, deverias chamar-me madrinha. Mas tu não, nunca, era Rita e pronto (agora às vezes lá te sai o madrinha). Acho que no papel nem nunca cheguei a ser tua madrinha, que quando tu foste baptizada eu era demasiado nova para assinar coisas dessas. Assinou a minha mãe por mim, e eu peguei-te ao colo e embalei-te e brinquei contigo como se fosses uma boneca. Podes imaginar a excitação, para mim, miudita, filha única, o facto de haver um bebé com quem eu tinha o direito de brincar tanto quanto quisesse. Lembro-me que demoravas tempos imensos para comer, era um suplício, e lembro-te que gostavas de mexer nos lóbulos das orelhas de toda a gente. Era pegar-te ao colo e logo a tua mãozinha, zing!, direitinha à orelha. E lembro-me também de como me vinhas religiosamente dizer as notas, é isso que fazem as afilhadas no fim dos períodos, "tive sete cincos e três quatros", e eu, a lembrar-me do que pensava quando era eu a ter os setes cincos e os três quatros, corrigia a pergunta antes de a fazer, e dizia "e os cincos, foram a quê?".
Mas C., querida, isto tudo a propósito de quê? Recebi a tua prenda no correio, ontem. Eu sabia que vinha, tinhas-me dito, mas mesmo assim, que surpresa. Não olhei para o papel verde da alfândega, aquele onde está a descrição do que em dentro da caixa e que estraga as surpresas. Sentei-me no chão da sala e arranquei a fita-cola, uma de cada vez. Depois abri a caixa, e os presentes, um de cada vez. Obrigada, C.. Que bom. E que bom imaginar-te aí, a preparar isto para mim, a escolher tudo com cuidado, e eu só pensava, tão crescida que ela está, tão crescida.
Minha querida C., um abraço apertado para ti. E obrigada, gostei muito da prenda de anos.
Uma das coisas de que tenho mais gosto em ter feito, foi ter-te acompanhado a crescer. Ter-te dado livros, livros, sempre os livros que eu gostei de ler nas idades que foste tendo, sempre os livros que achei importante que lesses. Muitas vezes fui às livrarias em Lisboa, passear os dedos pelos livros, pensar o que seria bom para ti agora. Pensar, este ainda não, é muito cedo, no próximo ano é tempo. Herdaste muitos dos meus livros Uma Aventura e Viagens no Tempo. Um de cada vez. Vai ao meu quarto, escolhe um e leva. Custa-me desfazer-me dos meus livros, mas não destes para ti. Das coisas em que tenho mais gosto, é tu gostares de livros tanto quanto eu. E ofereceres-me livros, e de cada vez eu olhar para eles e pensar, não me teria ocorrido ler tal coisa, e depois ler e gostar, e ir comprar mais do mesmo autor.
Temos às vezes conversas de igual para igual, sobre empregos de verão e dinheiro, sobre planos para o futuro e idiossincrasias das pessoas nas nossas vidas. Cresceste tão boa e tão bonita e tão inteligente. Minha C.. Afilhada.
Lembras-te?, a tua avó sempre embirrou que me chamasses pelo nome. Segundo as regras da propriedade e respeito, ou qualquer coisa assim, deverias chamar-me madrinha. Mas tu não, nunca, era Rita e pronto (agora às vezes lá te sai o madrinha). Acho que no papel nem nunca cheguei a ser tua madrinha, que quando tu foste baptizada eu era demasiado nova para assinar coisas dessas. Assinou a minha mãe por mim, e eu peguei-te ao colo e embalei-te e brinquei contigo como se fosses uma boneca. Podes imaginar a excitação, para mim, miudita, filha única, o facto de haver um bebé com quem eu tinha o direito de brincar tanto quanto quisesse. Lembro-me que demoravas tempos imensos para comer, era um suplício, e lembro-te que gostavas de mexer nos lóbulos das orelhas de toda a gente. Era pegar-te ao colo e logo a tua mãozinha, zing!, direitinha à orelha. E lembro-me também de como me vinhas religiosamente dizer as notas, é isso que fazem as afilhadas no fim dos períodos, "tive sete cincos e três quatros", e eu, a lembrar-me do que pensava quando era eu a ter os setes cincos e os três quatros, corrigia a pergunta antes de a fazer, e dizia "e os cincos, foram a quê?".
Mas C., querida, isto tudo a propósito de quê? Recebi a tua prenda no correio, ontem. Eu sabia que vinha, tinhas-me dito, mas mesmo assim, que surpresa. Não olhei para o papel verde da alfândega, aquele onde está a descrição do que em dentro da caixa e que estraga as surpresas. Sentei-me no chão da sala e arranquei a fita-cola, uma de cada vez. Depois abri a caixa, e os presentes, um de cada vez. Obrigada, C.. Que bom. E que bom imaginar-te aí, a preparar isto para mim, a escolher tudo com cuidado, e eu só pensava, tão crescida que ela está, tão crescida.
Minha querida C., um abraço apertado para ti. E obrigada, gostei muito da prenda de anos.
domingo, setembro 16, 2007
somos todos portugueses
Desde há três dias que tenho um terçol que vai lá vai. A falar ao telefone com a família, pergunto se há algum remédio caseiro para isso. Diz a minha tia que é esfregar um anel de ouro no dito terçol*. Mas para além de achar a solução pouco convincente, eu não tenho anéis de ouro e não me vou pôr a pedir a alguém que me empreste um anel para eu esfregar na linda inflamação que tenho no olho.
Ontem à noite, a visitar um casal de portugueses, entre olás e beijinhos, mostro o meu terçol, e logo, sem mais nem quê, diz o D. -- toma, pega -- e tira a alinaça do dedo, -- esfrega na pálpebra um bocado, é de ouro e diz que faz bem.
* eu ia jurar que se escrevia terçolho. Afinal não.
Ontem à noite, a visitar um casal de portugueses, entre olás e beijinhos, mostro o meu terçol, e logo, sem mais nem quê, diz o D. -- toma, pega -- e tira a alinaça do dedo, -- esfrega na pálpebra um bocado, é de ouro e diz que faz bem.
* eu ia jurar que se escrevia terçolho. Afinal não.
verdes
Na sala tenho três vasos com plantas pousados no chão. O sol entra pouco pela janela, mas as plantas crescem com ar de quem não vai murchar tão cedo, ao contrário do que aconteceu com as violetas. Duas são refugiadas da casa da Teena, outra foi uma prenda da Céu, ontem mesmo. Já tenho plantas em casa, e são plantas com um passado, e isto tudo tem uma importância muito maior do que pode parecer.
quarta-feira, setembro 12, 2007
algodão doce
Melhor que um entardecer em que as nuvens estão cor-de-rosa como algodão doce, é um entardecer em que as nuvens estão cor-de-rosa como algodão doce e a rua cheira a doce. A doces, mesmo, a ponto de ficar com água na boca.
estou a ter uma aula de finanças, porque sim
Hoje o professor escreveu uma matriz identidade no quadro e chamou-lhe Arrow-Debreu. Claro que é um bocado mais complicado que isso, mas foi como dar um nome ao número 1.
terça-feira, setembro 11, 2007
9 às 7, vá, 6
Volto a tentar este semestre um horário regrado, sem matemática fora de horas e com muita matemática dentro das horas. Chegar à universidade às 9, sair entre as 6 e as 7, e depois descansar. Aos fins-de-semana, quase sempre não matemática. É possível fazer um doutoramento à custa da autodisciplina?
domingo, setembro 09, 2007
didos
O C. está decidido a reinventar a língua portuguesa. Ontem ficou verdadeiramente desalentado por dedos não se dizer didos.
carta aberta ao m., meu afilhado
m.-zinho
Há um ano, no meu dia de anos (ou seja, 4 de setembro, não te esqueças de telefonar a mandar beijinhos quando tiveres idade para isso), a tua mãe telefonou-me, estava eu num museu, a olhar para os van goghs, os renoirs, e outros que tais como prenda para mim própria. M.-zinho, quando fores grande, será que vais saber quem são, e gostar deles? Tens tempo. Mas estava eu a dizer, há um ano e mais uns dias, telefonou-me a tua mãe, com a minha prenda de anos, que era ficar a saber que tu exisitias. Eles estavam tão contentes, os teus pais. Falámos sobre isso nesse verão, que era tempo de tu vires, e depois, logo ali em setembro, pimba, tu já existias. Eu não podia dizer a ninguém, nem aos meus pais, nem aos teus avós, nem à tua tia. Confesso, no entanto, que houve pessoas aqui deste lado que ficaram a saber da tua existência poucos dias depois, que uma notícia feliz assim é difícil de manter segredo absoluto.
Era só isso, m.. Festinhas na cabeça e beijos nos dedinhos dos pés, nham.
Há um ano, no meu dia de anos (ou seja, 4 de setembro, não te esqueças de telefonar a mandar beijinhos quando tiveres idade para isso), a tua mãe telefonou-me, estava eu num museu, a olhar para os van goghs, os renoirs, e outros que tais como prenda para mim própria. M.-zinho, quando fores grande, será que vais saber quem são, e gostar deles? Tens tempo. Mas estava eu a dizer, há um ano e mais uns dias, telefonou-me a tua mãe, com a minha prenda de anos, que era ficar a saber que tu exisitias. Eles estavam tão contentes, os teus pais. Falámos sobre isso nesse verão, que era tempo de tu vires, e depois, logo ali em setembro, pimba, tu já existias. Eu não podia dizer a ninguém, nem aos meus pais, nem aos teus avós, nem à tua tia. Confesso, no entanto, que houve pessoas aqui deste lado que ficaram a saber da tua existência poucos dias depois, que uma notícia feliz assim é difícil de manter segredo absoluto.
Era só isso, m.. Festinhas na cabeça e beijos nos dedinhos dos pés, nham.
sábado, setembro 08, 2007
das visitas, neste caso a Cat
Com quem me visita e visita nova iorque, volto sempre a ver a cidade pela primeira vez. Nunca tinha andado nova iorque tão intensamente como estes 4 dias. Vimos nova iorque à custa de dores nos pés, e de usar sapatos diferentes em dias consecutivos para não aleijar sempre no mesmo sítio, de sentar um bocadinho sempre que possível mas ainda assim muito pouco, de acordar cedo e deitar tarde e queixar-mo-nos do sono e do cansaço, e ainda assim, continuar a andar. A Cat trazia um guia turístico cheio de post-its a marcar o que queria ver, e um a um, tirámos os post-its quase todos, o do jazz, o da strand, o da bagel, os dos museus, um a um, a marcar missões cumpridas e dores nos pés.
E depois, há a parte em que as visitas vêm a boston. E eu tenho o privilégio de, encaixadas na minha rotina, ter cá gente minha. Dar-lhes uma cópia da chave, mi casa es tu casa, vê, é esta a minha vida, aquele é o supermercado, ali é o café onde eu estudava para o grande exame. E ir para a universidade o dia inteiro, e depois voltar à tarde, ao fim de um dia de trabalho, é ainda o dia ser uma festa, jantar e gargalhadas*, tudo em português, um luxo.
* Nos outros dias, sem visitas, também há jantar e gargalhadas, e às vezes algumas palavras em português. :) Mas há gargalhadas que se vão acumulando de anos e anos a rir das mesmas coisas, histórias contadas e recontadas. Se eu disser, vocês vão saber como foi, falámos do "refrescar o talo" e do "pandão", a ver fotografias velhas que eu cá tenho de nós todos juntos.
E depois, há a parte em que as visitas vêm a boston. E eu tenho o privilégio de, encaixadas na minha rotina, ter cá gente minha. Dar-lhes uma cópia da chave, mi casa es tu casa, vê, é esta a minha vida, aquele é o supermercado, ali é o café onde eu estudava para o grande exame. E ir para a universidade o dia inteiro, e depois voltar à tarde, ao fim de um dia de trabalho, é ainda o dia ser uma festa, jantar e gargalhadas*, tudo em português, um luxo.
* Nos outros dias, sem visitas, também há jantar e gargalhadas, e às vezes algumas palavras em português. :) Mas há gargalhadas que se vão acumulando de anos e anos a rir das mesmas coisas, histórias contadas e recontadas. Se eu disser, vocês vão saber como foi, falámos do "refrescar o talo" e do "pandão", a ver fotografias velhas que eu cá tenho de nós todos juntos.
terça-feira, setembro 04, 2007
nyc adeus
ou seja, ontem, mas estava tão cansada que não vim aqui.
(central park, quasi-guggenheim, outro museu de design, ny style pizza, mais central park, e uma bagel já no autocarro)
(central park, quasi-guggenheim, outro museu de design, ny style pizza, mais central park, e uma bagel já no autocarro)
segunda-feira, setembro 03, 2007
sábado, setembro 01, 2007
nyc a quatro pés
Quatro pés muito doridos, e ainda só no fim do primeiro dia...
(financial district, chinatown, soho, union square, jazz no village vanguard, times square)
(financial district, chinatown, soho, union square, jazz no village vanguard, times square)
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